terça-feira, outubro 31, 2006

Joni Mitchell


Gosto muito de pensar nos caminhos musicais que me levaram a alguns de meus músicos preferidos. Quando tinha 14 anos comecei a tocar baixo, influenciado por amigos que já tocavam alguns instrumentos. E logo um amigo, também baixista, me apresentou Jaco Pastorius, um dos grandes baixistas que já viveram. Gostei imediatamente do Pastorius. Comecei a ir atrás de sua discografia, e descobri que ele tocava com uma mulher, que aparentemente nem cantava jazz. Era folk. Acho que na época eu nem sabia o que era folk. Primeiramente ouvi os álbuns que o Pastorius participou (que é conhecido com a fase jazz dela): Hejira, Don Juan´s Reckless Daughter, Mingus e álbum ao vivo Shadows and Light. Fiquei maravilhado com as músicas, a princípio. Não era jazz, não era como outras músicas folk (que depois descobri o que eram). Era outra coisa, era algo único, era Joni Mitchell. Depois de ficar maravilhado com a música, que é o impacto mais imediato, obviamente, fiquei extasiado com as letras – eram tão vivas, tristes, alegres, engraçadas, lindas. Elas contavam histórias, traçavam perfis, falavam da vida pessoal de Joni e da vida de outros, mas com uma sinceridade absurda. Fui atrás dos discos mais antigos, a fase folk. Novamente me deparei com várias, várias pérolas. Como acho que os milhares de adjetivos não vão elucidar nada do que falo (apenas servem como tentativa de compartilhar meus sentimentos), vou colar trechos de letras de diversos álbuns.

Os álbuns que mais gosto, em ordem cronológica, com alguns trechos de música:

Ladies of the Canyon´(1970):

minha música preferida deste disco é Rainy Night House, um retrato de um rapaz rico que deixa tudo que tem para descobrir quem é:

"It was a rainy night/ We took a taxi to your mother's home/ She went to Florida and left you/ With your father's gun alone
Upon her small white bed/ I fell into a dream/ You sat up all the night and watched me/ To see who in the world I might be"

Outra música desse álbum que gosto muito, música que fala do tempo e de sua inevitabilidade - The circle game:

"Yesterday a child came out to wonder/ Caught a dragonfly inside a jar/ Fearful when the sky was full of thunder/ And tearful at the falling of a star/ Then the child moved ten times round the seasons/ Skated over ten clear frozen streams/ Words like when you're older must appease him/ And promises of someday make his dreams/ And the seasons they go round and round/ And the painted ponies go up and down/ We're captive on the carousel of time/ We can't return we can only look/ Behind from where we came/ And go round and round and round/ In the circle game"
O disco que segue é Blue, de 1971. Um álbum triste, visceral, num tom confessional que impressiona pelo nível de exposição de Joni Mitchell. Um trecho de All I want, música que abre o disco:

"I am on a lonely road and I am traveling/ Looking for the key to set me free/ Oh the jealousy, the greed is the unraveling
It's the unraveling/ And it undoes all the joy that could be/ I want to have fun, I want to shine like the sun/ I want to be the one that you want to see/ I want to knit you a sweater/ Want to write you a love letter/ I want to make you feel better/ I want to make you feel free/ I want to make you feel free"


Trecho de Blue, música que dá nome ao álbum:

"Blue songs are like tattoos/ You know I've been to sea before/ Crown and anchor me/ Or let me sail away/ Hey blue, here is a song for you/ Ink on a pin/ Underneath the skin/ An empty space to fill in/ Well there're so many sinking now/ You've got to keep thinking/ You can make it thru these waves/ Acid, booze, and ass/ Needles, guns, and grass/Lots of laughs lots of laughs"

E um último trecho, da música A Case of You, que é um belo exemplo das músicas de amor de Joni Mitchell - ela sempre sente que vai se perder no outro, e acaba se perdendo, mas nunca desiste:

"Just before our love got lost you said/ "I am as constant as a northern star"/ And I said "Constantly in the darkness/ Where's that at?/ If you want me I'll be in the bar"/ On the back of a cartoon coaster/ In the blue TV screen light/ I drew a map of Canada/ Oh Canada/ With your face sketched on it twice/ Oh you're in my blood like holy wine/ You taste so bitter and so sweet/ Oh I could drink a case of you darling/ Still I'd be on my feet/ oh I would still be on my feet"
No próximo post continuo com mais trechos e pequenos comentários.

sábado, outubro 28, 2006

Pequeno ritual

Realmente não sei o porquê da mudança. Acredito que todos nós somos marcados por pequenos rituais, rezas diárias para pequenos templos, tentativas de organizar um tempo que independe de qualquer coisa. Então penso que essa mudança de blog é reflexo de muitos pensamentos e questões que andam povoando minha cabeça. Talvez a mudança seja um incentivo próprio para escrever em maior quantidade e mais livremente, de alguma forma me sentia preso à fórmulas no antigo blog. Não sei se tudo isso mudará com uma simples mudança de endereço, mas espero que sim. Este gesto não deixa de ser uma mudança de casa, busca de outras vistas, de outras janelas, de uma nova cama, de um novo caminho (mesmo que tudo isso seja um tanto subjetivo e simbólico, é algo vivo e vive em mim).

Encontrei no livro de Milton Hatoum, Dois irmãos, uma epígrafe, tirada de um poema de Carlos Drummond de Andrade:

“A casa foi vendida com todas as lembranças

todos os móveis todos os pesadelos

todos os pecados cometidos ou em vias de cometer

a casa foi vendida com seu bater de portas

com seu vento encanado sua visto do mundo

seus imponderáveis[...]”