segunda-feira, abril 28, 2008

velharias (poema que escrevi para um amigo -2006)

poema que escrevi para um amigo


quais migalhas de pele
te alcançaram, e,
na confusão dos teus poros,
se confundiram com a tua própria,
folhas de outono
perdidas entre o ciclo das estações?

qual o círculo vertiginoso da
rotina, fixa, que esconde
seu movimento na mobilidade
dos olhos distantes e secos?

talvez os passos sejam esses
dos seus pés de pássaro
(a asa ou o vento quebrado?)

ou da mão hesitante que
tenta derrubar o vínculo
da violência silenciosa
e sutil,

mas que pára na delicadeza
do tempo e da espera.

domingo, abril 20, 2008

velharias

vontades # 3

quando do chão brota o raio
dos teus passos curtos

- pequenos sustos em lugares escuros –

cria-se em minha memória
um silêncio exato –

logo cessado por meu suspiro,
uma longa onda a se quebrar

terça-feira, abril 15, 2008

mais velharia

pedido ao tempo

há de ser ouvido por mim
seus compassos escuros, no estalo,
e claros, no silêncio

há de ser absorvido nos poros
as gotas de esquecimento
e estrelas de memória
que correm em suas lacunas

há de ser construído uma enorme
estalactite ou castelo de areia,
iguais na forma
e distintos na pedra,
suas duas faces

há de ser exato nas mãos
e transbordante nos olhos,
provendo outra pele
a cada piscar de pálpebra
(acendendo e apagando o mundo,
testando sua continuidade)


há, por fim, de emprestar
sua constância aos meus gestos,
aos meus gritos,
e sua fluência à verborragia
de meu silêncio
(e que se desfaça em seu fio
outro fio, mas fino e frio,
que ligue meus olhos a todos os nomes)