de uma conversa com Rafael
Temos vivido sob um céu
de technicolor,
você bem disse.
Esta vida de cores artificiais,
nuvens rosas artificiais.
O chão escuro e falso que piso
(cadafalso,
lapso de espaço
entre ruínas, entre palavras)
Nossos olhos preto-e-branco
nada podem contra o mundo,
e nem estas palavras,
nem algum gesto à Arthur ou Brancaleone.
Mas nada adianta também
responder ao mundo com rudeza,
nada que tente desfazer os pactos diários,
que o sol, pastor dos dias, vai perdendo de seu rebanho,
nada que soe como desespero, desdém,
as palavras e cores que guardamos
nos desvãos da casa
ou qualquer canto que aprendemos a chamar de lar.
Nós, que no desterro de outros céus
agora desaprendemos suas cores.
Nós, que avançamos os dias
como uma marcha rumo a precipícios
e outras noites,
onde as cores artificiais
ganham ar de verdade
e o sons com hálito de álcool
florescem e fenecem em ouvidos sujos
mas puros, espero,
ingênuos,
todos refletindo e sendo iluminados
por estas cores.
Nós, que às vezes chamamos de sol
os postes amarelos e as luzes dos faróis.
Nos livram de algumas rochas,
criam caminhos, algumas pontes,
alguns píeres...
Mas quem somos nós
para separar o real do ilusório?
O verde do verde, o azul do azul?
As noites da noite?
Mas quem somos nós?