sábado, março 29, 2008

na falta de tudo, o antigo

resolvi vasculhar a velharia e mostrar coisas antigas, que escrevi há muito, quando eu era outro.

começando com um texto duma seriezinha chamada Cherchez la femme (pequenos retratos)

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Seus olhos têm qualidade de noite: se mostram ao esconder, firmes como a coluna de luz da lua à minha janela. E não qualquer noite, algo nítido como o ar após a chuva. O corpo anda em linha reta, pois ignora as curvas do mundo, um quase flutuar. E, como a noite, é curiosa, argüi, questiona, te olha séria e depois sorri, como se tudo fosse uma grande brincadeira. Perguntariam-me: como qualidade de noite, se ela é dourada? Eu diria que não souberam a ver – tem muito de noite no sol, e tudo contém também aquilo que esconde

quarta-feira, março 05, 2008

na falta de tudo, trechos

Os detetives selvagens, de Roberto Bolaño (os personagens falam sobre um sonho da ex-namorada):

"Era um sonho cheio de cores, com uma batalha no fundo, uma batalha que se distancia e que, ao se distanciar, arrasta consigo todas as interpretações. Mas Norman respondeu: sonhou com os filhos que não tivemos. Está me gozando, falei. Era esse o significado do sonho. A batalha que distancia, para você, eram os filhos que vocês não tiveram? Mais ou menos, Norman respondeu. Aquelas sombras que combatiam. E as cores? O que resta, Norman disse, a simples abstração do que resta."