ditado Obijwe
sometimes i go about in pity for myself, and all the while, a great wind carries me across the sky
"De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra - como um lápis numa península". Manoel de Barros em Livro sobre Nada
sometimes i go about in pity for myself, and all the while, a great wind carries me across the sky
rabiscado por Guilherme às 22:29 1 comentários
Meu catavento tem dentro o que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido, eu te pedi sustenido e você riu bemol
Você só pensa no espaço, eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio, você é litorânea
Quando eu respeito os sinais vejo você de patins vindo na contramão
Mas quando ataco de macho, você se faz de capacho e não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega, nós não ouvimos conselho
Eu sou você que se vai no sumidouro do espelho
Eu sou do Engenho de Dentro e você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio e você é expansiva, o inseto e a flor
Um torce pra Mia Farrow, o outro é Woody Allen
Quando assovio uma seresta você dança havaiana
Eu vou de tênis e jeans, encontro você demais, scarpin, soiré
Quando o pau quebra na esquina, cê ataca de fina e me ofende em inglês
É fuck you, bate bronha e ninguém mete o bedelho
Você sou eu que me vou no sumidouro do espelho
A paz é feita num motel de alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval aumentam os desenganos
Você vai pra Parati e eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro o vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora o escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade, você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço, você é tão espontânea
Sei que um depende do outro só pra ser diferente, pra se completar
Sei que um se afasta do outro, no sufoco, somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser e eu sou meio vermelho
Mas os dois juntos se vão no sumidouro do espelho
rabiscado por Guilherme às 17:50 0 comentários
Na madrugada,
quando os pombos
voam como morcegos,
e todos os nomes
nos muros não tem rosto
nem voz, nem luz,
apenas sombras de ninguém,
sobras da noite,
e as artes pintadas
só ajudam a erguer outros muros,
são, no fim, apenas outros nomes,
inúteis, o inverso da noite
(que é noite ainda mais escura).
E todos esses nomes não escondem
o fato de que um só nome
realmente
ecoa
e é impronunciável.
rabiscado por Guilherme às 13:51 1 comentários
assunto: literatura
Uma mão rasga o colchão,
segura meu braço e puxa,
enterrando-me,
cama-cova.
Acordo.
***
Outra mão segura meu rosto,
mão-cega, tateia os lábios,
bochecha, orelha,
chega aos olhos
e entende as pálpebras
ao máximo.
Sonho.
rabiscado por Guilherme às 22:13 0 comentários
assunto: literatura
na janela
a árvore resiste ao vento
e não há nenhum
pássaro que a faça voar
rabiscado por Guilherme às 00:09 0 comentários
assunto: literatura
Nunca fui capaz
de escrever canções
que pudesse cantar.
Sobraram-me estes versos
de ritmo caduco,
voz de chuva,
de cão, casa queimada
ao rés do chão.
E se pudesse a raiva ter voz,
ou a calma,
alguns pecados ganhariam
perdão.
(estrago, então, minha voz
com cigarros, cerveja,
cachaça.
Coleciono calos,
calafrios
- desato a corda e
me afasto do cais)
rabiscado por Guilherme às 20:06 1 comentários
assunto: literatura
The city exulted, all in flowers.
Soon it will end: a fashion, a phase, the epoch, life.
The terror and sweetness of a final dissolution.
Let the first bombs fall without delay.
rabiscado por Guilherme às 15:33 0 comentários
assunto: literatura
Fazer o que seja é inútil.
Não fazer nada é inútil.
Mas entre fazer e não fazer
mais vale o inútil do fazer.
Mas não, fazer para esquecer
que é inútil: nunca o esquecer.
Mas fazer o inútil sabendo
que ele é inútil e que seu sentido
não será sequer pressentido,
fazer: porque ele é mais difícil
do que não fazer, e dificil-
mente se poderá dizer
com mais desdém, ou então dizer
mais direto ao leitor Ninguém
que o feito o foi para ninguém.
rabiscado por Guilherme às 13:57 1 comentários
assunto: literatura