Imaginações improvisadas
O tigre caminhou por entre as cadeiras, cuidando para que seu imenso corpo não tocasse em nada nem em ninguém. A aula continuou monótona. Ninguém além de mim notou a presença do tigre. Era um misto de beleza e perigo. Percebi: toda beleza é perigosa. O tigre me lembrou sereias num abismo (nova ordem de sereias que abandonaram o mar, por ele não guardar mais mistérios). Há sempre uma voz nos guiando para um naufrágio, e esta voz sempre é linda. O animal continuou seu baile. Passou em frente ao professor, que continuou jogando palavras ao vácuo. O tigre parou em frente a janela, olhou a paisagem e depois, lentamente, virou sua cabeça até alcançar meu eixo de olhar. Fitamos-nos por muito pouco tempo. Agora, com o caminho livre, o tigre avançou pelo corredor e sumiu da minha vista. Por muitos anos essa memória me assombrou como um tigre caminhando entre pessoas. Mas lentamente ela foi se apagando, caminhando para longe de mim. Uma desistência, talvez. Não insisti comigo mesmo, não procurei certificar minha memória, perguntando para outros que estavam lá se também tinham visto o tigre. Deixei-o fugir naturalmente, como naquele dia.
Um comentário:
bom saber que ainda continuas escrevendo.
Postar um comentário