pedido ao tempo
há de ser ouvido por mim
seus compassos escuros, no estalo,
e claros, no silêncio
há de ser absorvido nos poros
as gotas de esquecimento
e estrelas de memória
que correm em suas lacunas
há de ser construído uma enorme
estalactite ou castelo de areia,
iguais na forma
e distintos na pedra,
suas duas faces
há de ser exato nas mãos
e transbordante nos olhos,
provendo outra pele
a cada piscar de pálpebra
(acendendo e apagando o mundo,
testando sua continuidade)
há, por fim, de emprestar
sua constância aos meus gestos,
aos meus gritos,
e sua fluência à verborragia
de meu silêncio
(e que se desfaça em seu fio
outro fio, mas fino e frio,
que ligue meus olhos a todos os nomes)