Ganhei o Collected Poems do Czeslaw Milosz, uma bíblia com todas as poesias, de 1931-2001 e só agora, depois de alguns meses, comecei a lê-lo com mais calma. Os poemas são um misto de amargura e busca de redenção, momentos de maravilhamento e terror, momentos de muita fé católica e outros de descrença. Milosz viveu intensamente a segunda guerra mundial e a guerra nunca terminou, para ele. Vou traduzir alguns trecho...
“O verdadeiro inimigo do homem é a generalização.
O verdadeiro inimigo do homem, a assim chamada História,
Atrai e terroriza com seus números plurais.
Não acredite. Esperta e traiçoeira,
A História não é, como disse Marx, anti-natureza,
E se uma deusa, uma deusa do cego destino.”
(Lecture IV)
“Eu a amava, sem saber quem ela realmente era.
Eu infligi dor a ela, buscando minha ilusão.
Eu a traí com outras mulheres, embora fiel somente a ela.
Nós vivemos muita felicidade e tristeza.
Separações, resgates milagrosos. E agora, estas cinzas.
E o mar quebrando na orla enquanto eu caminho pela rua vazia.
E o mar quebrando na orla. E o sofrimento comum.
Como resistir ao nada? Que poder
Preserva o que um dia foi, se a memória não perdura?
Porque eu lembro de pouco. Eu lembro de tão pouco.
De fato, momentos reconstruídos significariam o Julgamento Final
Que é adiado diariamente, por Misericórdia, talvez.
Fogo, libertação da gravidade. Uma maçã não cai,
Uma montanha move-se de seu lugar. Além da cortina de fogo,
Um cordeiro fica no prado de formas indestrutíveis.
As almas no Purgatório queimam. Heráclito, louco,
Vê as chamas consumirem as fundações do mundo.
Acredito na Ressurreição da Carne? Não destas cinzas.”
(Da separação de minha mulher, Janina)
“Imperfeito e ciente disso. Desejando grandeza,
Capaz de reconhecer grandeza onde quer que esteja,
E não exatamente, apenas em parte, clarividente,
Eu sabia o que era guardado para homens menores como eu:
Uma festa de breves esperanças, uma passeata dos orgulhosos,
Um torneio de corcundas, literatura.”
(Uma confissão)