O descanso do fotógrafo
Falava de sua vida, durante um descanso merecido, após horas de pé, o fotógrafo mais velho. O mais novo escutava, tendo de aproximar o ouvido para distanciar os gritos adolescentes dos formandos e da música. O mais novo dos dois fazia apenas algumas perguntas, para rumar a conversa.
“Meu filho mais velho não vejo faz anos. Já é homem, já. Trinta anos, tem filho. Sim, sim, conheço meu neto. Mas não vou atrás. Ele sabe onde moro, quando quer, me procura. Culpa da minha mulher, se meteu com um homem barra-pesada. É isso aí, me deixou. Paguei pensão e tudo. Para homem você paga pensão até os vinte um, para mulher até os dezoito. Engraçado, né? É ao contrário. E se fizer faculdade, tem que pagar os estudos até o fim. Não, ele não fez não. Depois de um tempo, que ela me deixou, ela começou a ligar, me pedindo ajuda pra se livrar do barra-pesada. Mas eu não ajudei não, o que que eu ia fazer? E por causa dele eu não via meu filho. Mas teve uma vez que eu liguei pra ela, falando que ia lá ver o moleque. Ela disse que o cara estava lá, que era pra eu não ir. Eu disse que ia, não me importava com o cara, que eu ia ver meu filho de qualquer jeito. Chamei um amigo que era policial. Hoje é advogado, faz tempo que não vejo também. Ele ficou na esquina, segurando a arma do lado da cintura. Disse que dali, se o cara tentasse qualquer coisa era pá!, tiro no meio da cabeça. Fui até o portão e fiquei gritando o nome do meu filho, até que ele veio. O barra-pesada nunca apareceu. Esse meu amigo era gente boa, olha o que ele fez por mim. Eu devia procurar ele.”
O fotógrafo mais velho coçava os olhos insistentemente, no final da conversa. Depois de um tempo de silêncio, levantou-se e disse que ia ao banheiro. Deu um tapinha no ombro do mais novo, antes de seguir pelo labirinto de mesas e cadeiras.
“Meu filho mais velho não vejo faz anos. Já é homem, já. Trinta anos, tem filho. Sim, sim, conheço meu neto. Mas não vou atrás. Ele sabe onde moro, quando quer, me procura. Culpa da minha mulher, se meteu com um homem barra-pesada. É isso aí, me deixou. Paguei pensão e tudo. Para homem você paga pensão até os vinte um, para mulher até os dezoito. Engraçado, né? É ao contrário. E se fizer faculdade, tem que pagar os estudos até o fim. Não, ele não fez não. Depois de um tempo, que ela me deixou, ela começou a ligar, me pedindo ajuda pra se livrar do barra-pesada. Mas eu não ajudei não, o que que eu ia fazer? E por causa dele eu não via meu filho. Mas teve uma vez que eu liguei pra ela, falando que ia lá ver o moleque. Ela disse que o cara estava lá, que era pra eu não ir. Eu disse que ia, não me importava com o cara, que eu ia ver meu filho de qualquer jeito. Chamei um amigo que era policial. Hoje é advogado, faz tempo que não vejo também. Ele ficou na esquina, segurando a arma do lado da cintura. Disse que dali, se o cara tentasse qualquer coisa era pá!, tiro no meio da cabeça. Fui até o portão e fiquei gritando o nome do meu filho, até que ele veio. O barra-pesada nunca apareceu. Esse meu amigo era gente boa, olha o que ele fez por mim. Eu devia procurar ele.”
Um comentário:
Olá!
Não sei se lembra de mim... trabalhei na Cultura quando você não trabalhou. Acabei de ler esse texto. Lindo! Vou fazer mais visitas!
Um beijo!
Pri.
Postar um comentário