Da janela do quarto
Da minha janela vejo,
em primeiro plano, a árvore,
nascida em solo insólito,
e, longe, onde a chuva cessa,
o prédio abandonado.
Mais do que a própria chuva,
inconstante em sua semelhança,
ligam-se os dois elementos enquadrados
na esquadria da janela:
ambos falam de um passado esfumaçado,
sente-se o abandono nas folhas
onde palavra nenhuma foi escrita,
e nos galhos, raízes aéreas, perdidas
no desterro do ar.
Sente-se vida no prédio abandonado,
nas plantas abismando o concreto,
vitória do abstrato, onde não havia
imaginação nem viço,
fantasmas do que ali já se passou.
Hoje a chuva fez muito, ligando para mim
as imagens que nunca vi, como se a janela
da sala fosse na verdade a de um trem,
que passa e esquece...
(a soma de dois elementos, somando
um terceiro, o escondido, o escuro
de dentro, um sumiço, um possível...)
Nenhum comentário:
Postar um comentário