terça-feira, novembro 14, 2006

Wayne Shorter - Night Dreamer

Wayne Shorter - Night Dreamer (para ouvir)

Achei o vinil numa das barraquinhas da Praça Benedito Calixto. Chamou-me atenção a
linda capa, como geralmente o são as capas do sele Blue Note e os nomes envolvidos: o álbum é Night Dreamer de Wayne Shorter, com Elvin Jones na bateria, McCoy Tyner no piano, Lee Morgan no trompete e Reggie Workman no baixo. Comprei o disco por 10 reais e voltei feliz para casa. Coloquei na vitrola e ainda não estava preparado para as emoções e percepções que o disco iria causar. A princípio foram as sensações cruas, depois uma tentativa de racionalização. O álbum tem uma estrutura básica, nas composições, todas de Wayne Shorter. Primeiro ele apresenta o tema, construído e calmo, até a entrada do primeiro solista, que desestabiliza todo o tema e leva a música além, para o campo da improvisação, que, diga-se de passagem, estava inspirada nestas sessões. Logo na primeira música tive contato com outra coisa, não sabia o que era. Depois percebi: estava diante de um tempo outro. Há muito de matemática na música, o tempo dividido em mínimas, semínimas, breves, semibreves, etc, ou seja, o tempo dividido em instantes, uma marcação constante, como o ponteiro dos relógios, um mínimo comum para que todos os músicos tenham chão para suas viagens. Mas, pouco a pouco, a música perde esse chão, sem nunca perder sua unidade. Geralmente, nos grupos de jazz, quem tem a função de manter essa marcação é a bateria, dona do tempo. E Elvin Jones, aos poucos, vai escapando dessa função, e sua bateria torna-se uma abstração, mais do que isso, torna-se a essência, escapando da abstração que é pensar o tempo como instantes. O tempo concreto é a duração, o tempo não dividido, o tempo-tempo. O mais incrível é que é possível senti-lo. Não é necessário uma bateria dizendo pss-pss-pss-pss para marcar o compasso. Estando todos no mesmo espírito, na mesma vibração, o tempo os carrega juntos, sem ser necessário se mostrar. É apenas sentido.


Um comentário:

Sabrina Guerghe disse...

Impressionante sua sensibilidade!!! Eu achava esse disco sensacional, mas depois de ler suas impressões ele tornou-se extraordinário!! Parabéns!